' O título da Obra, Narcóticos, não quer dizer que ela seja um
extracto de papoilas ou essência de morfina. Se a obra é
essência de alguma coisa é da modéstia do Autor. Essência
de modéstia. Por ele saber que a sua obra é excitante e es-
candecente chamou-lhe Narcóticos. Admirável e tocante! É
o mesmo que chamar 'linimento de sabão com ópio'' à tintura
de iodo e ´´clister de linhaça'' a uma injecção de petróleo, e
aos beliscões ''beijos''! A modéstia acrisolada tem estas
aberrações metafóricas. Chamar-se um sujeito a si
''soporífero'', quando toda a gente, depois de o ler, bebe
láudano de Sdenham para dormir e anestesiar-se é um pre-
dicado raro que só frisa bem com as reputações constituídas,
invulneráveis, argamassadas. Mas, acima da modéstia própria,
o Autor põe a higiene alheia. Por consequência, com um pé
na modéstia e a mão entre o estômago e o fígado - no orgão da
consciência -, o Autor avisa os seus leitores incautos e amigos
que quem quiser dormir não abra estes livros. É melhor não os
abrir, se já sente abrir-se-lhe a boca no fim do Prefácio'
São Miguel de Ceide, Setembro de 1882